BART 6221/74 - A HISTÓRIA DO BATALHÃO DE ARTILHARIA 6221/74 - ANGOLA 1975

sexta-feira, 23 de maio de 2014

PROCURA DE EDIFÍCIOS NA CIDADE DO LUSO



PROCURA DE EDIFÍCIOS 
NA CIDADE DO LUSO

Fotografia aérea (obtida no Google Maps) da cidade do Luso (agora Luena), na actualidade. Marquei com um círculo a branco o edifício do Hotel Luso. À esquerda, com dois círculos a vermelho: na parte superior aquilo que penso ser o edifício do antigo quartel onde esteve a 2ª CART do BART 6221/74 e na parte inferior – também com círculo a vermelho – o que penso serem os antigos edifícios da Messe de Sargentos. O que penso ser o "quartel" tem agora um edifício moderno ao lado, no terreno que me parece ter sido um descampado em 1975.

Alguém me conseguirá confirmar estas minhas suposições?

Pormenor da zona com os círculos avermelho.

Alguém se lembra como se chamava este "monumento"?

Foto do mesmo monumento, em 1975, com três camaradas nossos em primeiro plano - não sei se a foto foi tirada pelo Mário Lopes....

Digam qualquer coisa nos "Comentários", aqui em baixo, OK?

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quarta-feira, 21 de maio de 2014

MAIS ALGUNS DISPARATES SOBRE O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO” AGORA NA VOZ DOS “NOSSOS” GENERAIS.


Caminho de Ferro de Benguela (a vermelho) - Luso-Huambo: 536 Km

MAIS ALGUNS DISPARATES SOBRE O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO” 
AGORA NA VOZ 
DOS “NOSSOS” GENERAIS

Trata-se de um PDF de depoimentos dos participantes nos chamados Estudos Gerais da Arrábida, que pode ser lido aqui: http://www.ahs-descolonizacao.ics.ul.pt/docs/angola_1997_07_31.pdf

Estudos Gerais da Arrábida A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA 
Painel dedicado a Angola (28 de Agosto de 1996) 

Depoimentos dos brigadeiros Fernando Passos Ramos (1), Pedro Pezarat Correia (2), almirante Rosa Coutinho (3) e comandante Jorge Correia Jesuíno (4).
“(...)
Almirante Rosa Coutinho: A FNLA avançou até ao Ambriz e depois até ao Caxito.

Brigadeiro Passos Ramos: Sim, mas não era um perigo maior.

Almirante Rosa Coutinho: Expulsou o MPLA…

Brigadeiro Passos Ramos: O FNLA não, o Zaire.

Almirante Rosa Coutinho: O Leão Correia continuava a comandar lá aquela zona. Acabou por ter de regressar a Luanda sob o acosso da FNLA (...)”.

“(...)

Brigadeiro Passos Ramos: Sim, mas [a FNLA] levou castanha das nossas tropas que não foi brinquedo, não é? Porque a saída de Carmona e do Uíge foi protegida pelas tropas, por helicópteros e com emboscadas descontínuas. Infelizmente, já não aconteceu o mesmo no Luso. Infelizmente, no Luso foi uma inconsciência total o que fizeram. Mandar por caminho-de-ferro, oferecer às mandíbulas daquele tipo, daquele tipo da UNITA, que foi morto mais tarde… como é que ele se chamava? Oferecem-lhe um comboio com um batalhão e com oitocentos civis, mulheres e crianças. Depois deu origem ao «batalhão pé descalço»: o comandante de batalhão, entre perder as pessoas… Porque a vontade da tropa era disparar, era ripostar contra indivíduos emboscados dentro da mata [ao longo] do caminho de ferro. E ouve-se a história de um administrativo que vinha lá dentro: «Todos os dias eu rezo pela saúde daquele tenente-coronel.» Ele sujeitou-se a tudo para ir buscar um furriel que mandou uma galheta num tipo da UNITA. Levavam-no já para o matar. E ele veio em cuecas. Chegaram em cuecas, sem fardas – um batalhão! […]. Chegaram a Nova Lisboa e aqueles tipos de cavalaria começaram a chamar à artilharia o «batalhão pé descalço». Só que, mais tarde, quando chegaram…

Almirante Rosa Coutinho: Isso da UNITA foi em Nova Lisboa ou no Luso?

Brigadeiro Passos Ramos: Isto foi em Cangumbe.

Brigadeiro Pezarat Correia: Foi na saída do comboio… Era o Amaro que vinha a comandar o batalhão.

Brigadeiro Passos Ramos: Era o Amaro. O Amaro estava há quinze dias lá. O segundo comandante, inteligentemente, entrou de licença. Em vez de o mandarem vir por Henrique Carvalho, como seria normal, mandam-no sair pela área da UNITA. Acho que o Mário Soares, na partilha daquele armamento que era da OPVDCA [Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil de Angola] e que estava dito que seria distribuído pelos movimentos, terá beneficiado o MPLA (ali não havia FNLA) em vez da UNITA. De maneira que a UNITA foi buscar o armamento de um batalhão inteiro: fardamento; as bagagens de todos os civis…

Brigadeiro Pezarat Correia: Mas ó dr. Lucena, eu penso que comemos aqui algumas etapas e foi pena. Ficaram algumas coisas…

Manuel de Lucena: Não, eu acho que a conversa já vai…(...)”


Como se pode ler, nem os senhores Generais sabiam muito bem do que estavam a falar. Eu próprio presenciei a cena do furriel que foi levado pelos tipos da UNITA e sei que não foi por ele ter “mandado uma galheta” a quem quer que fosse. Foi de facto na estação de Cangumbe, (aquela frase de estarem “emboscados na mata”, não é verdade – foi mesmo nas estações, primeiro em Chicala e depois em Cangumbe) mas por terem descoberto o carro dele (um volkswagen vermelho) em cima de uma berliet, tapado com uma lona. O comandante das FALA perguntou de quem era aquele carro e, quando o furriel disse que era dele, foi imediatamente levado para fora da estação – o comandante das FALA gritava: “andou a disparar contra nós no Luso!!!”. Foi aí que o nosso comandante foi atrás deles, para resgatar o homem e foi agredido pela turba que rodeava o caminho e que, inclusivamente lhe arrancou os galões da farda. Não me recordo se o dito furriel foi “devolvido” “em cuecas” (não me parece que tenha sido assim, senão eu recordava-me disso), mas sei que estava bastante mal tratado quando regressou ao comboio. Portanto... meus amigos, estas coisas – a verdade – têm mesmo que ficar escritas por quem as viveu: nós próprios!

Obviamente o comboio não era este (penso que nem há fotos dele), mas seria qualquer coisa no género.

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sexta-feira, 16 de maio de 2014

AMANHÃ (17 DE MAIO) O 20º ENCONTRO ANUAL DE 2014 DO BART 6221/74 - EM PERABOA


Peraboa - Concelho da Covilhã

AMANHÃ (17 DE MAIO) 
O 20º ENCONTRO ANUAL DE 2014 
DO BART 6221/74
EM PERABOA

Página de divulgação do Encontro anual do BART 6221/74 de 17 de Maio de 2014
no blogue Dos Veteranos da Guerra do Ultramar
Como se pode verificar há um erro no título do texto: o BART6221/74 não serviu o Estado Português em Angola em 1974, mas em 1975. É preciso atenção a estes pormenores...
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Comunicação do ex-Furriel Alpoim Inácio, da 3ª CART do BART 6221/74
para este encontro
ALGUMAS FOTOS DE PERABOA



NA IMPOSSIBILIDADE DE ESTARMOS PRESENTES 
O BLOGUE "ÚLTIMOS NO LESTE" DESEJA A TODOS UM EXCELENTE ENCONTRO

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quarta-feira, 7 de maio de 2014

O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO”



O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO”

Descobri, numa comunicação do nosso camarada Eduardo Maia, a publicitar o Encontro anual do BART 6221/74 no próximo dia 17, em Pera Boa, que afinal o nosso Batalhão tinha Brasão e Guião, apesar de sempre me ter parecido que não tinha. Aqui fica.

Esta questão do “Batalhão Pé Descalço” tem-me partido a cabeça ao longo destes quase 40 anos. A minha ex-mulher, na altura escreveu-me a contar que havia saido na imprensa (penso que n’O Jornal) uma notícia sobre o “Batalhão Pé Descalço” e logo aí fiquei furioso. Mas pensei que a peça poderia resultar de alguma “boca” de um dos nossos camaradas: “chegou tudo descalço” ou “chegou tudo em cuecas”, enfim... Tenho também pensado se o “descalço” não seria uma alusão ao “desarmado”... Mas depois do que me escreveu o tal meu amigo (cujo depoimento publiquei no post anterior) e de qualquer modo, já que estamos historicamente conectados com essa designação, vou deixando aqui as comunicações que se referem a ela. Mais tarde poderemos questionar ou reflectir nisto tudo, se é que alguém estará interessado em fazê-lo. Mas penso que tem alguma importância.

Deixo aqui um excerto do texto (uma Comunicação lida na célebre Assembleia de Tancos do MFA) publicado no blogue “Fora Nada e vão Três – Luís Graça & Camaradas da Guiné” – que podem ver AQUI!
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Mensagem de José Belo (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref), com data de 17 de Janeiro de 2010:

Caros Camaradas e Amigos.

Em comentário, quanto a mim, pertinente, Carlos Vinhal salienta o facto de poucas "histórias e Histórias" haver publicadas pelos que... fecharam a porta... das guerras de África.

Em complemento ao meu poste sobre a descolonização, e a propósito do referido, aqui segue a intervenção do delegado do M.F.A de Angola (Capitão Azevedo Martins) à Assembleia dos Delegados do Exército que ficou conhecida como a Assembleia de Tancos (2 de Setembro de 1975).

"(...) Estão presentemente sediados em Nova Lisboa um Comando de Agrupamento, um Batalhão de Cavalaria e um Batalhão de Infantaria. Não existe sequer uma arma pesada, e dos dois Batalhões, o de Cavalaria ainda poderá dispor de pouco mais de 100 homens para o combate, enquanto o de Infantaria não poderá dispor de NINGUÉM, pois é o Batalhão que veio do Luso e que os próprios soldados do Comando do Agrupamento e do Batalhão de Cavalaria apelidam do "Batalhão do pé descalço.

Este Batalhão, no seu deslocamento do Luso para Nova Lisboa, foi desarmado, e espancados alguns dos seus elementos, incluindo o próprio Comandante. Perderam-se cerca de 4000 armas, rádios, munições, material cripto, tudo em posse da Unita. Foi o próprio Chiwale, 2.º Comandante Militar da Unita, que ordenou esta acção contra o Batalhão, como represália por acções menos correctas das nossas tropas em Sá da Bandeira, das quais trataremos mais à frente. Deste Batalhão, soldados houve que chegaram a Nova Lisboa em cuecas, facto que terá traumatizado esses elementos, mas é agora trauma explorado para forçar a sua retirada imediata para Portugal, embora só tenha... 3 meses de comissão!


Ciganos, que fazem parte dos elementos do Batalhão, logo após a entrada no quartel que lhes foi distribuído, começaram com arrombamentos e roubos. Impossível é, e porque tudo já se tentou, convencer a maioria a pegar em armas, mesmo que seja para desempenhar a também nobre missão de sentinela. Os factos passados com este Batalhão, e com uma "espécie de Companhia" que apareceu em Nova Lisboa, muito contribuíram para uma quebra no entusiasmo com que os poucos mais de 100 homens do BCav vinham desempenhando árduas missões, mesmo fora da zona de acção, como foi a evacuação da população de Malange.

A "espécie rara de Companhia" que atrás referi é um bando, não digo armado, por à semelhanca do Batalhão, ter sido também desarmada pela Unita, quando do regresso de uma missão de Henrique de Carvalho para Luanda. O Comandante desta Companhia apareceu em Nova Lisboa escoltado por elementos da FNLA, brancos, armados, pedindo cerca de 2.000 mil rações de combate e alguns milhares de litros de gasolina. Refere-se que o dito Comandante da Companhia não estava sob qualquer coacção!

Peço aqui licença ao meu General para usar linguagem "vicentina"... mas estamos a averiguar casos de soldados que trocaram a sua ração de combate pela... "co.." de algumas desalojadas! É um tal Capitão França e Silva e a sua Companhia que recebe na ordem de dezenas largas de contos dos desalojados, aos quais já muito pouco resta na vida, e mesmo esta em risco de perder-se se nós não lhes valermos. São as acções deste mesmo Capitão ao entregar o quartel de Pereira de Eça em condições muito mais que cobardes como consta do auto de notícia, por mim escrito, em que fez entrar no Quartel elementos do MPLA e os dispôs em posições camufladas. Seguidamente foi comunicar à UNITA para ir receber o mesmo Quartel. O resultado não precisa de ser aqui descrito.

Mas não são só os Militares. É-o também um tal Encarregado do Governo que mesmo sabendo das carências dos refugiados se permitiu arrecadar seis ou sete toneladas de arroz, pois tinha no seu palácio albergados os Srs. Ministros da UNITA. Tive mesmo oportunidade de perguntar numa reunião, a este Encarregado do Governo, porque não estaria já hasteada no seu palácio a bandeira da UNITA, tal o estado, sujo e esfarrapado, em que lá tinha hasteada a bandeira Portuguesa! (...)”


À parte a inexactidão do “Batalhão de Infantaria”, da imbecilidade dos “ciganos” com “arrombamentos e roubos“ e outras “miudezas”, isto terá alguma coisa de real? Foi isto que se passou? Não me parece, não acredito nisto, mas aguardo outras opiniões...

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sexta-feira, 2 de maio de 2014

ONDE FICOU O BART 6221/74 EM NOVA LISBOA


Quando comecei esta saga de tentar contar a História do BART 6221/74, consegui identificar o quartel onde ficou o Batalhão em Nova Lisboa (mais tarde falaremos na estadia no Luso), no Google Maps, por causa do inconfundível lago artificial que lhe ficava ao lado e onde por vezes iamos “ao banho”. A minha dificuldade foi em saber a designação do referido quartel. Escrevi então a um amigo da adolescência, que por coincidência havia encontrado em Nova Lisboa na altura.

Eis a resposta desse meu amigo:

Ok Jorge aqui vai o que sei, o que recordo e o que ouvi dizer.

O aquartelamento em Nova Lisboa situava-se a 3/4 km a norte
[é a sul, mas ele enganou-se] da cidade e era composto pelo RI salvo erro 10 portanto RI10 e contiguo a este outro que apenas conhecia pela Escola, devia ser qualquer escola militar destinada a formar especialidades dos militares angolanos mas que estava praticamente desativada por recrutamentos internos.

Esta escola serviu aliás para um acontecimento caricato no processo de independência. Quando da tentativa de formar as Forças armadas angolanas fundindo os 3 movimentos, Nova Lisboa foi o palco do juramento de bandeira do 1º batalhão destas ditas forças, compostas por oficiais e praças dos 3 movimentos e ficaram aquarteladas na dita Escola. No dia seguinte a Escola estava vazia de homens e armas pois tinham todos desertado para os seus movimentos originais.

Quanto a mim não estava integrado em nenhum batalhão pois era de rendição individual e pertencia a uma oficina avançada de Transmissões cuja sede era em Luanda o ATMA (Agrupamento de Transmissões Militares de Angola).

O teu batalhão não foi render o que se encontrava no RI10, vocês vieram do Luso inseridos no processo de retirada gradual das FA Portuguesas e ficaram em Nova Lisboa para depois virem para Portugal.

Quanto a nós encontramo-nos também em Nova Lisboa e estivemos no apartamento em que eu vivia 1 ou duas vezes porque eu estava de saída para Luanda e posteriormente para Portugal.

Isto é o que vivi e me lembro. Agora o que ouvi dizer e o que não tenho bem a certeza.

Segundo soava nos meios militares, e tu podes confirmar ou não, é que o comboio que transportava o teu batalhão do Luso tinha sofrido uma emboscada pela Unita e que vocês tinham sido feito reféns sem ter tido tempo de se defenderem. Os vossos pertences e armamento tinha sido confiscado e até deram uma alcunha ao batalhão que era o batalhão do pé descalço. Inclusivamente tenho uma vaga lembrança de quando estivemos no meu apartamento te ter cedido alguma roupa dada a situação acima descrita. Se não foi a ti foi a outro tipo do teu batalhão que eu conheci que era aqui da Piedade e cujo nome não me recordo pois não era da minha malta e só conhecia de vista mas que nessas alturas todos nos conhecemos. Mas isto tu poderás tirar as certezas pois se foi verdade passou-se contigo. Chegou aliás a haver um processo de despromoção do Coronel comandante do teu batalhão numa punição pública na parada do Regimento.

O RI10, isto é um facto, não tinha nenhum batalhão aquartelado. Com a retirada gradual das Forças Portuguesas era um posto de passagem para Portugal e na altura em que eu lá estive tinha apenas uma CCAÇ (companhia de caçadores) que regressaram depois de mim e que era o pessoal com quem eu me dava. No entretanto todos os militares recrutados em Angola (nativos brancos e negros) tinham sido desmobilizados.

Bom por agora é o que me lembro mas se tiveres alguma pergunta concreta apita ok?

Um abraço


E a minha contra-resposta:

Caríssimo,

Fixe! Esta tua resposta às minhas questões ajuda muito na minha rememoriação dos acontecimentos. Embora com algumas coisas que não corresponderam à verdade e que foram transformadas em “lenda”. Mas mesmo essa informação também me é preciosa.

O meu Batalhão foi de facto assaltado pela UNITA, mas não houve reféns nenhuns – pelo menos no tal comboio, onde eu estava. Isto porque houve também uma coluna auto que saíu do Luso com escolta de uma companhia (por acaso a minha, mas onde eu não segui) que também foi atacada pela UNITA em “General Machado”. No comboio fomos assaltados e desarmados, unicamente. Cheguei a Nova Lisboa com todos os meus haveres (que nem eram muitos), apenas sem a G3. Enfim, essa do “pé-descalço” correu pela informação e transformou-se no tal mito, que não correspondeu à verdade – ninguém chegou descalço a N.L.. Sei de alguns soldados, que em pânico entregaram as malas onde traziam as roupas e outros pertences, etc... daí haverem alguns que só chegaram a N.L. com os fardamentos que traziam vestidos. Mas ninguém, que eu saiba, chegou descalço ou em cuecas!!!

Devo dizer e isto é uma coisa que não saiu na imprensa da altura, que aquele comboio tinha 50 vagons, puxados por duas locomotivas. Era uma coisa monstruosa. E nós vinhamos dispersos por toda aquela composição, que englobava dois vagons cheios até cima de armas da polícia do Caminho de Ferro de Benguela e que foi o motivo do ataque da UNITA.

Não houve possibilidades de defesa num comboio com aquela extensão, para mais com cerca de 500 civis em fuga do Luso pelo meio, aquilo foi tudo mal programado – a UNITA tinha sido expulsa do Luso pelo MPLA na véspera da nossa saída e estava desesperada, quase sem armas e munições.

Mas tudo isto vai, evidentemente, constar da minha narrativa, como é óbvio.

Depois, eu não estive no teu apartamento (encontrámo-nos no portão do R.I.21 – descobri anteontem fotos desse portão e recordei-me da situação), mas essa informação que me dás – acerca de forneceres roupas a um tipo do meu Batalhão –, serve-me para complementar algumas coisas de que não tive conhecimento – mais aquilo que me dizes sobre as F.I. – as tais “forças armadas angolanas” que nunca chegaram a existir. E, já agora, não houve nenhum processo de tentativa de despromoção do Tenente-Coronel João Faria Amado. Houve outras coisas, mas não essa. 


Por outro lado correu o boato de que eu tinha morrido durante a viagem de Luanda para o Luso e tu sabias desse boato, não sei como o sabias, mas recordo-me de que falámos disso. Este boato aconteceu porque o camião onde eu devia vir, na viagem de Luanda para o Luso, que trazia, como todos os outros, um bidon de gasóleo de reserva, para cima do qual um soldado atirou uma beata, o bidon explodiu e morreram seis tipos, incluindo o que vinha ao lado do condutor e que deveria ser eu, como furriel do pelotão. Só que, a dada altura, tinha trocado o camião pelo jeep Willis que ia à frente da coluna, com o furriel enfermeiro (que era fotógrafo profissional) para irmos fazendo fotografias “turísticas” pelo caminho... Daí que tenha escapado. 

Já agora, só por piada, também fui dado como morto em 1997 (depois do divórcio), numa situação imbecil de um “amigo” que resolveu espalhar um boato cretino e muitos amigos meus acreditaram nisso, até eu lhes aparecer (passaram a chamar-me "o ressuscitado"). Portanto, fui dado como morto duas vezes já. Penso que à terceira – e se for só boato – acho que devo ganhar a eternidade, eh, eh...

Bem, falando sério, já consegui encontrar referências aos quartéis de Nova Lisboa – o RI 10 de que falas era o R.I.21 – Regimento de Infantaria 21! Em frente do 
R.I.21 ficava o I.I.V.A. – Instituto de Investigação Veterinária de Angola. Depois o quartel da tal “escola”, era a Escola de Aplicação Militar de Angola (EAMA), que foi onde nós ficámos e tinha o lago artificial ao lado a que chamavam "lago dos Recrutas".

Portanto isto está a compor-se. Estou à espera que o Arquivo Geral do Exército me envie a lista do pessoal do meu batalhão (lista que já paguei) para tentar entrar em contacto com alguém via internet.

Se me lembrar de mais alguma coisa, podes crer que te escrevo.

Obrigado pela tua resposta e um grande abraço,


OS MAPAS
ONDE FICAVAM OS QUARTÉIS DE NOVA LISBOA



Vista aérea parcial actual da Escola de Aplicação Militar de Angola (Google Maps ampliado), onde ficou o BART 6221/74

FOTOS

Vista aérea actual da E.A.M.A.

Vista aérea actual do R.I.21 (Já semi-restaurado) e da E.A.M.A.

Vistas da E.A.M.A. nos anos sessenta...

Vistas actuais do edifício principal da E.A.M.A

Vistas do portão do R.I.21 nos anos sessenta...

Vista actual do mesmo portão, depois de ser restaurado nos anos noventa.

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A SEGUIR
DE ONDE VEIO O BOATO 
DO "BATALHÃO PÉ-DESCALÇO"?

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