quarta-feira, 21 de maio de 2014

MAIS ALGUNS DISPARATES SOBRE O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO” AGORA NA VOZ DOS “NOSSOS” GENERAIS.


Caminho de Ferro de Benguela (a vermelho) - Luso-Huambo: 536 Km

MAIS ALGUNS DISPARATES SOBRE O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO” 
AGORA NA VOZ 
DOS “NOSSOS” GENERAIS

Trata-se de um PDF de depoimentos dos participantes nos chamados Estudos Gerais da Arrábida, que pode ser lido aqui: http://www.ahs-descolonizacao.ics.ul.pt/docs/angola_1997_07_31.pdf

Estudos Gerais da Arrábida A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA 
Painel dedicado a Angola (28 de Agosto de 1996) 

Depoimentos dos brigadeiros Fernando Passos Ramos (1), Pedro Pezarat Correia (2), almirante Rosa Coutinho (3) e comandante Jorge Correia Jesuíno (4).
“(...)
Almirante Rosa Coutinho: A FNLA avançou até ao Ambriz e depois até ao Caxito.

Brigadeiro Passos Ramos: Sim, mas não era um perigo maior.

Almirante Rosa Coutinho: Expulsou o MPLA…

Brigadeiro Passos Ramos: O FNLA não, o Zaire.

Almirante Rosa Coutinho: O Leão Correia continuava a comandar lá aquela zona. Acabou por ter de regressar a Luanda sob o acosso da FNLA (...)”.

“(...)

Brigadeiro Passos Ramos: Sim, mas [a FNLA] levou castanha das nossas tropas que não foi brinquedo, não é? Porque a saída de Carmona e do Uíge foi protegida pelas tropas, por helicópteros e com emboscadas descontínuas. Infelizmente, já não aconteceu o mesmo no Luso. Infelizmente, no Luso foi uma inconsciência total o que fizeram. Mandar por caminho-de-ferro, oferecer às mandíbulas daquele tipo, daquele tipo da UNITA, que foi morto mais tarde… como é que ele se chamava? Oferecem-lhe um comboio com um batalhão e com oitocentos civis, mulheres e crianças. Depois deu origem ao «batalhão pé descalço»: o comandante de batalhão, entre perder as pessoas… Porque a vontade da tropa era disparar, era ripostar contra indivíduos emboscados dentro da mata [ao longo] do caminho de ferro. E ouve-se a história de um administrativo que vinha lá dentro: «Todos os dias eu rezo pela saúde daquele tenente-coronel.» Ele sujeitou-se a tudo para ir buscar um furriel que mandou uma galheta num tipo da UNITA. Levavam-no já para o matar. E ele veio em cuecas. Chegaram em cuecas, sem fardas – um batalhão! […]. Chegaram a Nova Lisboa e aqueles tipos de cavalaria começaram a chamar à artilharia o «batalhão pé descalço». Só que, mais tarde, quando chegaram…

Almirante Rosa Coutinho: Isso da UNITA foi em Nova Lisboa ou no Luso?

Brigadeiro Passos Ramos: Isto foi em Cangumbe.

Brigadeiro Pezarat Correia: Foi na saída do comboio… Era o Amaro que vinha a comandar o batalhão.

Brigadeiro Passos Ramos: Era o Amaro. O Amaro estava há quinze dias lá. O segundo comandante, inteligentemente, entrou de licença. Em vez de o mandarem vir por Henrique Carvalho, como seria normal, mandam-no sair pela área da UNITA. Acho que o Mário Soares, na partilha daquele armamento que era da OPVDCA [Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil de Angola] e que estava dito que seria distribuído pelos movimentos, terá beneficiado o MPLA (ali não havia FNLA) em vez da UNITA. De maneira que a UNITA foi buscar o armamento de um batalhão inteiro: fardamento; as bagagens de todos os civis…

Brigadeiro Pezarat Correia: Mas ó dr. Lucena, eu penso que comemos aqui algumas etapas e foi pena. Ficaram algumas coisas…

Manuel de Lucena: Não, eu acho que a conversa já vai…(...)”


Como se pode ler, nem os senhores Generais sabiam muito bem do que estavam a falar. Eu próprio presenciei a cena do furriel que foi levado pelos tipos da UNITA e sei que não foi por ele ter “mandado uma galheta” a quem quer que fosse. Foi de facto na estação de Cangumbe, (aquela frase de estarem “emboscados na mata”, não é verdade – foi mesmo nas estações, primeiro em Chicala e depois em Cangumbe) mas por terem descoberto o carro dele (um volkswagen vermelho) em cima de uma berliet, tapado com uma lona. O comandante das FALA perguntou de quem era aquele carro e, quando o furriel disse que era dele, foi imediatamente levado para fora da estação – o comandante das FALA gritava: “andou a disparar contra nós no Luso!!!”. Foi aí que o nosso comandante foi atrás deles, para resgatar o homem e foi agredido pela turba que rodeava o caminho e que, inclusivamente lhe arrancou os galões da farda. Não me recordo se o dito furriel foi “devolvido” “em cuecas” (não me parece que tenha sido assim, senão eu recordava-me disso), mas sei que estava bastante mal tratado quando regressou ao comboio. Portanto... meus amigos, estas coisas – a verdade – têm mesmo que ficar escritas por quem as viveu: nós próprios!

Obviamente o comboio não era este (penso que nem há fotos dele), mas seria qualquer coisa no género.

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