quarta-feira, 7 de maio de 2014

O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO”



O “BATALHÃO PÉ DESCALÇO”

Descobri, numa comunicação do nosso camarada Eduardo Maia, a publicitar o Encontro anual do BART 6221/74 no próximo dia 17, em Pera Boa, que afinal o nosso Batalhão tinha Brasão e Guião, apesar de sempre me ter parecido que não tinha. Aqui fica.

Esta questão do “Batalhão Pé Descalço” tem-me partido a cabeça ao longo destes quase 40 anos. A minha ex-mulher, na altura escreveu-me a contar que havia saido na imprensa (penso que n’O Jornal) uma notícia sobre o “Batalhão Pé Descalço” e logo aí fiquei furioso. Mas pensei que a peça poderia resultar de alguma “boca” de um dos nossos camaradas: “chegou tudo descalço” ou “chegou tudo em cuecas”, enfim... Tenho também pensado se o “descalço” não seria uma alusão ao “desarmado”... Mas depois do que me escreveu o tal meu amigo (cujo depoimento publiquei no post anterior) e de qualquer modo, já que estamos historicamente conectados com essa designação, vou deixando aqui as comunicações que se referem a ela. Mais tarde poderemos questionar ou reflectir nisto tudo, se é que alguém estará interessado em fazê-lo. Mas penso que tem alguma importância.

Deixo aqui um excerto do texto (uma Comunicação lida na célebre Assembleia de Tancos do MFA) publicado no blogue “Fora Nada e vão Três – Luís Graça & Camaradas da Guiné” – que podem ver AQUI!
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Mensagem de José Belo (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref), com data de 17 de Janeiro de 2010:

Caros Camaradas e Amigos.

Em comentário, quanto a mim, pertinente, Carlos Vinhal salienta o facto de poucas "histórias e Histórias" haver publicadas pelos que... fecharam a porta... das guerras de África.

Em complemento ao meu poste sobre a descolonização, e a propósito do referido, aqui segue a intervenção do delegado do M.F.A de Angola (Capitão Azevedo Martins) à Assembleia dos Delegados do Exército que ficou conhecida como a Assembleia de Tancos (2 de Setembro de 1975).

"(...) Estão presentemente sediados em Nova Lisboa um Comando de Agrupamento, um Batalhão de Cavalaria e um Batalhão de Infantaria. Não existe sequer uma arma pesada, e dos dois Batalhões, o de Cavalaria ainda poderá dispor de pouco mais de 100 homens para o combate, enquanto o de Infantaria não poderá dispor de NINGUÉM, pois é o Batalhão que veio do Luso e que os próprios soldados do Comando do Agrupamento e do Batalhão de Cavalaria apelidam do "Batalhão do pé descalço.

Este Batalhão, no seu deslocamento do Luso para Nova Lisboa, foi desarmado, e espancados alguns dos seus elementos, incluindo o próprio Comandante. Perderam-se cerca de 4000 armas, rádios, munições, material cripto, tudo em posse da Unita. Foi o próprio Chiwale, 2.º Comandante Militar da Unita, que ordenou esta acção contra o Batalhão, como represália por acções menos correctas das nossas tropas em Sá da Bandeira, das quais trataremos mais à frente. Deste Batalhão, soldados houve que chegaram a Nova Lisboa em cuecas, facto que terá traumatizado esses elementos, mas é agora trauma explorado para forçar a sua retirada imediata para Portugal, embora só tenha... 3 meses de comissão!


Ciganos, que fazem parte dos elementos do Batalhão, logo após a entrada no quartel que lhes foi distribuído, começaram com arrombamentos e roubos. Impossível é, e porque tudo já se tentou, convencer a maioria a pegar em armas, mesmo que seja para desempenhar a também nobre missão de sentinela. Os factos passados com este Batalhão, e com uma "espécie de Companhia" que apareceu em Nova Lisboa, muito contribuíram para uma quebra no entusiasmo com que os poucos mais de 100 homens do BCav vinham desempenhando árduas missões, mesmo fora da zona de acção, como foi a evacuação da população de Malange.

A "espécie rara de Companhia" que atrás referi é um bando, não digo armado, por à semelhanca do Batalhão, ter sido também desarmada pela Unita, quando do regresso de uma missão de Henrique de Carvalho para Luanda. O Comandante desta Companhia apareceu em Nova Lisboa escoltado por elementos da FNLA, brancos, armados, pedindo cerca de 2.000 mil rações de combate e alguns milhares de litros de gasolina. Refere-se que o dito Comandante da Companhia não estava sob qualquer coacção!

Peço aqui licença ao meu General para usar linguagem "vicentina"... mas estamos a averiguar casos de soldados que trocaram a sua ração de combate pela... "co.." de algumas desalojadas! É um tal Capitão França e Silva e a sua Companhia que recebe na ordem de dezenas largas de contos dos desalojados, aos quais já muito pouco resta na vida, e mesmo esta em risco de perder-se se nós não lhes valermos. São as acções deste mesmo Capitão ao entregar o quartel de Pereira de Eça em condições muito mais que cobardes como consta do auto de notícia, por mim escrito, em que fez entrar no Quartel elementos do MPLA e os dispôs em posições camufladas. Seguidamente foi comunicar à UNITA para ir receber o mesmo Quartel. O resultado não precisa de ser aqui descrito.

Mas não são só os Militares. É-o também um tal Encarregado do Governo que mesmo sabendo das carências dos refugiados se permitiu arrecadar seis ou sete toneladas de arroz, pois tinha no seu palácio albergados os Srs. Ministros da UNITA. Tive mesmo oportunidade de perguntar numa reunião, a este Encarregado do Governo, porque não estaria já hasteada no seu palácio a bandeira da UNITA, tal o estado, sujo e esfarrapado, em que lá tinha hasteada a bandeira Portuguesa! (...)”


À parte a inexactidão do “Batalhão de Infantaria”, da imbecilidade dos “ciganos” com “arrombamentos e roubos“ e outras “miudezas”, isto terá alguma coisa de real? Foi isto que se passou? Não me parece, não acredito nisto, mas aguardo outras opiniões...

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5 comentários:

  1. Por acaso li isto hoje, 15 de Abril de 2018; fui testemunha de tudo o que aí está reportado, ocorrido em Nova Lisboa em Agosto de 75, era eu então Capitão Paraquedista ... e comandava uma Companhia de Paraquedistas, que em Nova Lisboa protegeu cerca de 2000 refugiados do MPLA num dos quartéis... fui eu o 1º militar a ver chegar os primeiros militares de pé descalço a Nova Lisboa, assim como fui, curiosamente, o 1º militar a ver chegar a "espécie de companhia" desarmada a Nova Lisboa.... esta Comandada por um Capitão do meu curso da Academia Militar.... e o Bat de Infantaria do Luso integrava também um Capitão do meu curso da AM... é tudo verdade o reportado em Nova Lisboa... desde os pés descalços, desarmados, sem fardas.... até á recusa de fazerem sentinela... que tive de substituir por soldados meus paraquedistas... até á troca de rações de combate por co... das refugiadas... tive eu de proibir a entrada no campo de refugiados a elementos do exército que iam lá por isso... vivi tudo isso... que partiram coisas no quartel em Nova Lisboa também é verdade.... desconheço a história dos ciganos... mas a companhia nem sequer parecia de ciganos... era pior..

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  2. Aqui está a verdadeira historia do BART 6221/74 e da qual fiz parte dela, uma vez que era 1º.Cabo de Op. Msgs. da CCS desse mesmo Batalhão.Um forte abração ao Furriel Maia e um forte abraço a todos os Companheiros e Camaradas ainda vivos. Para os que já partiram Páz á sua alma...

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  3. É estranho que alguns ex-militares desse batalhão de artilharia não se lembrem do que aconteceu,pois tudo o que esse capitão diz tudo isso é verdade, eu estava no quartel ao lado e era 1-º cabo do b.cavalaria 8325 e por isso sei que isso aconteceu, mas mais estranho ainda é que nunca ninguém se refere ao batalhão de Cavalaria 8325 sendo que nessa altura era residente do RI 21 EM Nova lisboa, devo dizer que com esse b.de Artilharia passaram coisas muito estranhas, enfim a memória é curta em alguns casos.

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  4. Muito se tem dito acerca do Bart, 6221, mas pouco se acerta. Por exemplo, o sr Capitão acima refere que ele foi o primeiro a ver chegar, os camaradas na situação que todos conhecemos, e que é verdade isso aconteceu, mas como pode ter sido o capitão o primeiro se antes dos camaradas chegarem ao quartel dos paraquedistas , tinham que passar em frente á porta de armas do RI 21, onde nessa altura estava o Bcav 8325, e eu como 1-º cabo da 2-ª comp. desse Batalhão de Cavalaria estava nesse dia de Cabo da Guarda, e foi precisamente a mim e ao camarada sentinela de serviço que os primeiros a chegar se dirigiram, tendo eu chamado o Oficial de dia o Alferes Ferreira que depois tratou dos tramites junto do nosso Comandante de batalhão Sr Tenente Coronel Santos Leite.Tem-se visto em vários comentários escritos em como o bart. 6221 era de Infantaria o que é outra leviandade,enfim muito se fala sem muitos saberem o que dizem, até mesmo os camaradas desse bart, estão confusos, ao ponto de alguns dizerem que não se lembram de nada do que lhes aconteceu... pois bem camaradas não sintam vergonha, pois da forma que alguém os meteu na boca do lobo-- UNITA-- fosse o batalhão que fosse acontecia o mesmo que a voces. A confirmar o tudo que aqui digo está o que diz o camarada anónimo acima referido e que também ele pertencia ao meu batalhão de cavalaria 8325, e que tem toda a razão ao dizer que ninguém se refere a este batalhão,e é impossível que não se lembrem dele. enfim por vezes a memória é mesmo traiçoeira mas será mesmo? Aproveito para mandar um abraço a todos.
    1-º Cabo Sousa 2-ª Comp. do Bcav 8325

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  5. Falam tanto do batalhão 6221 é porque o mesmo teve grande sentido de responsabilidade em Angola . Eu fui um elemento do mesmo e tenho orgulho em cumprir o dever que me foi concedido, tenham vergonha falem a verdade setenta e cinco por cento do que dizem é mentira. O camarada Cabo Bruno que se diz ter pertencido ao batalhão apareça aos convívios para assim falarmos sobre o assunto.

    Abraço para todos.

    Teixeira (ex.Furriel Miliciano)

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