sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PREÂMBULO – PARA UMA HISTÓRIA DE ANGOLA (PARTE 2)

PREÂMBULO
PARA UMA HISTÓRIA DE ANGOLA 
(PARTE 2)


Quando o rei D.João II de Portugal tomou conta das viagens de descoberta oceânica, em 1474, retornando assim essas viagens à responsabilidade do Estado, depois da “gerência” de um comerciante “privado”, Fernão Gomes – a seguir à morte do Infante D. Henrique, em 1460 –, já a costa do Golfo da Guiné tinha sido explorada até ao Cabo Lopo Gonçalves (nome do descobridor e actual Cabo Lopez, no Gabão), a sul do Equador, no ano anterior. D.João II adoptou uma filosofia diferente na política de gestão dos descobrimentos, dando alguma precedência aos contactos com as populações dos territórios abordados/descobertos pelos navegadores portugueses, que até aí não conheciam quase nada do que se passava no “interland” das costas marítimas que abordavam. Claro que esses contactos tinham em vista encontrar a proveniência do ouro que chegava às cidades do Mediterrâneo, por meio dos berbéres e que, desde o Infante D. Henrique era o mote daquelas viagens – misturado com o interesse em encontrar produtos e parceiros para trocas comerciais e também, uma genuina curiosidade em “descobrir novas terras”.


A proveniência do ouro que o Infante procurava, pareceu ter sido encontrada após a descoberta do Cabo Branco, na ponta Norte do Golfo de Arguim (actual Mauritânia) onde, na ilha que dá o nome ao Golfo, foi construída uma feitoria-fortaleza entre 1445 e 1464. Esta era uma zona costeira semi-desértica mas onde, no limite sul do deserto do Saara (o denominado “Sahel”), confinando com as margens do Rio Níger, reinava o “Senhor do Ouro”, num senhorio originado em volta da cidade de Koumbi Saleh. O nome deste senhorio, em língua fula, seria ”Gine”, ou “Gana”, a que os portugueses chamariam Guinea, ou Guiné. A partir daí, toda a costa africana até ao actual Gabão, teria este nome – Golfo da Guiné. Mas o “senhorio” ou “império” do Gana – cerca de 300 a 1240 –, quando os portugueses chegaram a Arguim, já tinha mudado de donos (embora mantendo tradicionalmente o mesmo nome), substituidos por novos Senhores, agora do Mali (os Malinqués de Timbuktu), já muçulmanizados – este “império” durou desde cerca de 1240 a 1600 – atingindo a costa do Atlântico e expandindo-se pelo curso superior do Níger. (Ver mapa abaixo).

Clicar em cima do mapa para ampliar.

O Golfo da Guiné seria, mais tarde, designado por Costa dos Escravos (do início do século XVII, ao século XIX), já sob custódia britânica, devido ao comércio esclavagista, para alimentar a “mão de obra” das grandes plantações do Sul da colónia americana da coroa inglesa. Claro que os portugueses também se dedicaram a este “comércio” no dito Golfo, mas mais especialmente depois, a partir de Angola, para alimentarem as suas plantações nas terras do Brasil. Dedicaremos um capítulo específico deste Preâmbulo ao “comércio” esclavagista em África, dada a importância que teve, especialmente no apresamento e transferências forçadas (sempre em condições infra-humanas) de populações entre as duas margens do Oceano Atlântico, no sentido África-Américas – e não só. Acontece que o Golfo da Guiné era uma região densamente povoada, ao contrário da costa até aí alcançada pelos portugueses.

Existiam várias “cidades estado” e estados mais complexos, como o “reino” do Daomé e mais tarde do Benim. Evidentemente, os escravos que os senhores desses “reinos” vendiam aos portugueses, eram produto das guerras locais (que não vale a pena estarmos aqui a descrever), que os comerciantes europeus incentivariam, comprando escravos pagos em armas europeias... Enfim, nada que não conhecessemos já da História da própria Europa em tempos mais recuados.

Mas voltemos a D.João II. O rei começou por mandar construir uma fortaleza, designada por Castelo da Mina, depois S. Jorge da Mina, no actual Gana (que apesar do nome não tem nada a ver com o “Gana” de que falámos acima) – onde actualmente é conhecida por Elmina, na cidade que se desenvolveu a partir daquela fortaleza e que adoptou o mesmo nome. Aí era transaccionado o almejado ouro e... evidentemente, os escravos – mas também a pimenta, o marfim, goma, cera, azeite de palmeira e ovos de avestruz, etc... Mais tarde os ingleses chamariam ao Golfo da Guiné, Costa do Ouro (depois Costa dos Escravos, como dissemos anteriormente), quando se apoderaram do território, a partir do Séc. XVII. Os portugueses construiriam mais tarde algumas outras fortalezas no Golfo da Guiné – Sto. António em Axim, S. João Baptista d'Ajudá em Uidá, no actual Benim, etc...

Fotos acima: vistas da fortaleza de S. Jorge da Mina - na actualidade.

Contudo quando Diogo Cão, enviado por D.João II, chegou, em 23 de Abril 1483 [?], à foz do Rio Zaire (na má pronúncia portuguesa do termo em kikongo nzere ou nzadi – "o rio que traga todos os rios"), começou a escrever-se o que nos interessa: a Historia de Angola.

No entanto, dada a controvérsia que persiste [ainda] entre os historiadores portugueses sobre as viagens de Diogo Cão (ou Caão, ou Caam) – nomeadamente quanto a datas, ou a quantidade de viagens que realizou, admitindo mesmo alguns pesquisadores, que descobriu a ilha de Ascenção (no meio do Atlântico) e alcançou até o cabo de São Jorge no Brasil... Estas viagens têm que ser motivo do próximo capítulo deste Preâmbulo.

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