BART 6221/74 - A HISTÓRIA DO BATALHÃO DE ARTILHARIA 6221/74 - ANGOLA 1975

quinta-feira, 12 de março de 2015

PREÂMBULO – PARA UMA HISTÓRIA DE ANGOLA (PARTE 8) – PAULO DIAS DE NOVAIS FUNDA UMA FEITORIA PORTUGUESA NA ILHA DE LOANDA EM 1575


PREÂMBULO 
PARA UMA HISTÓRIA DE ANGOLA (PARTE 8)
PAULO DIAS DE NOVAIS 
FUNDA UMA FEITORIA PORTUGUESA 
NA ILHA DE LOANDA EM 1575 


Como vimos anteriormente, a 20 de Dezembro de 1559 Paulo Dias de Novais (neto de Bartolomeu Dias) recebeu instruções para integrar uma Embaixada de Portugal ao “Reino” do Ngola de Ndongo em 1560, juntamente com religiosos da Companhia de Jesus, que tinha como objectivo contactar o lendário “rei” do Ndongo, o Ngola Kiluanji.

Assim, a missão portuguesa, comandada por Paulo Dias de Novais, atracou na foz do rio Kwanza no dia 3 de Maio de 1560, com vários padres jesuítas, incluindo o notável jesuita Francisco de Gouveia. A missão portuguesa foi recebida com hostilidade e desconfiança pelo novo “rei” do Ndongo, o Ngola Kiluanje kia Ndambi, que os encarou como agentes do "rei" do Kôngo, mandando-os aprisionar. Mais tarde, com a promessa de conseguir apoio diplomático e militar português, Paulo Dias de Novais teve permissão para regressar a Portugal. Regressou em 1564, deixando o padre jesuíta Francisco Gouveia no território do Ngola.

Em 1571 o Rei D. Sebastião, providenciou a Dias de Novais carta para construir uma feitoria nas terras do Ngola, autorizando-o a fazer conquistas na região, levar para lá colonos e construir fortalezas. Dias de Novais partiu de Lisboa no dia 23 de Setembro de1574, acompanhado por mais dois padres da Companhia de Jesus, tendo chegado à Ilha de Loanda em Fevereiro de 1575 (exactamente há 440 anos), aportando com dois galeões, duas caravelas, dois patachos e uma galeota. Aí estabeleceu a primeira Feitoria portuguesa, com cerca de 700 pessoas, onde se encontravam religiosos, mercadores e funcionários, bem como 350 homens de armas.

A região já estava então fora da vassalagem ao “rei” do Kôngo, após a guerra deste com o Ngola de Ndongo, que havia afirmado a independência do seu “reino” em relação ao Kôngo. Contudo o “rei” Álvaro I do Kôngo (Mpangu-a-Nimi Lukeni lua Mvemba – 1568-1574) concordou com a fundação da feitoria portuguesa em Loanda, em recompensa pelo apoio de Portugal contra o reino dos Jagas (reino este talvez situado no Kassange – formado por grupos étnicos diversos, predominantemente nómadas, que se caracterizavam por não trabalhar, dedicando-se à rapina e à violência sobre as populações e de que falaremos mais tarde).

FUNDAÇÃO DE LUANDA


A nova cidade ganhou o nome através da sua ilha (de Loanda), a que os portugueses chamaram inicialmente “ilha das Cabras”, local onde os primeiros colonos se radicaram, como dissemos atrás. O topónimo Luanda provém do étimo lu-ndandu. O prefixo lu, primitivamente uma das formas do plural nas línguas bantu, é comum nos nomes de zonas do litoral, de bacias de rios ou de regiões alagadas (exemplos: Luena, Lucala, Lobito) e, neste caso, refere-se à restinga rodeada pelo mar. Ndandu significa valor ou objecto de comércio e alude à exploração dos pequenos búzios colhidos na ilha de Luanda e que constituíam a moeda corrente no Reino do Kôngo e em grande parte da costa ocidental africana, conhecidos por zimbo ou njimbo.

Como os povos ambundos moldavam a pronúncia da toponímia das várias regiões ao seu modo de falar, eliminando alguns sons quando estes não alteravam o significado do vocábulo, de Lu-ndandu passou-se a Lu-andu. O vocábulo, no processo de aportuguesamento, passou a ser feminino, uma vez que se referia a uma ilha, e resultou em Loanda e mais tarde, Luanda.

Outra versão para a origem do nome refere que o mesmo deriva de "Axiluandas" (homens do mar), nome dado pelos portugueses aos habitantes da Ilha, porque quando ai chegaram e lhes perguntavam o que estavam a fazer, estes responderam "uwanda", um vocábulo que em kikongo, designava trabalhar com redes de pesca.

Ao Ngola Kiluanje kia Ndambi tinha entretanto sucedido Njinga Ngola Kilombo kia Kasenda, discípulo do padre Francisco de Gouveia que, na sua estadia forçada de dezena e meia de anos (desde 1560) na região, tinha aproveitado para fazer a sua acção evangelizadora entre os povos do Ndongo. No dia 29 de Junho de 1575, Paulo Dias de Novais recebeu uma comitiva enviada pelo Ngola para o saudar.

Reconhecendo não ser a ilha de Luanda o lugar mais adequado para construir a Feitoria, avançou para terra firme e fundou a vila de São Paulo de Loanda em 25 de Janeiro de 1576, tendo lançado a primeira pedra para a edificação da igreja dedicada a São Sebastião – santo de grande devoção dos portugueses e patrono onomástico do rei de Portugal –, no lugar onde é hoje o Museu das Forças Armadas.

Gravuras com aspectos da Luanda antiga

Foto de Luanda (vista a partir da Ilha - em primeiro plano), nos anos 1960.

A escolha do novo local para a vila foi influenciada sobremaneira pela existência de um magnífico porto natural, situado numa baía protegida pela ilha; de uma fonte de água potável, as águas do poço da Maianga na (então) lagoa dos Elefantes; e das excelentes condições de defesa oferecidas pelo morro de São Paulo.

A sua população constituída pela comitiva de Paulo Dias de Novais, composta por sapateiros, alfaiates, pedreiros, cabouqueiros, taipeiros, um físico e um barbeiro, tiveram dificuldades de adaptação à inclemência do clima e à carência de condições para a fixação. No entanto, a vila expandiu-se para a "Cidade Alta", na continuação do morro de São Paulo, onde se construíram as instalações para a administração civil e religiosa. Os soldados e os mercadores de escravos viviam na "Cidade Baixa", na área actual dos Coqueiros.

Em 1605, com o aumento da população europeia e do número de edificações, que se estendiam já de São Miguel ao largo fronteiro do actual Hospital Josina Machel, a vila de São Paulo de Luanda recebeu foral de cidade, sendo constituída a primeira vereação municipal.

Luanda tornou-se a partir de 1627 o centro administrativo da região – que se começou a chamar Angola (derivação do título Ngola, como já dissemos), mas cuja dimensão era muito limitada. Para a defender foi construída a Fortaleza de São Pedro da Barra, em 1618, e a Fortaleza de São Miguel de Luanda, em1634. Isto, no entanto, não evitou a sua conquista pelos holandeses e o domínio da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, entre 1641 e 1648, quando o Rei português passou a ser Filipe II de Habsburgo, titular da “Monarquia de Madrid” (União dos reinos ibéricos de Castela, Aragão, Valência, Granada, Galiza e Navarra, a que se juntou Portugal – Monarquia que, mais tarde, se designaria por Espanha, derivativo da antiga Hispânia romana).

Incapaz de conquistar qualquer território por si mesmo, devido à escassez de forças de que dispunha, Dias de Novais fez alianças com ambos os reinos, do Kôngo e do Ndongo, servindo as suas escassas tropas como exército mercenário – apreciado pela eficácia, especialmente devido à cavalaria e às armas de fogo –, sobretudo na guerra contra os Jagas.

No entanto logrou alguns sucessos em termos de “conquistas” (sempre precárias), ocupando território entre o rio Bango e a confluência dos rios Kuanza e Lucala:

Pelos termos da Carta de Doação recebida, Novais deveria expandir o território para Norte até às margens do rio Dande (Bengo), para o Sul, e para o interior ao longo do curso do rio Kwanza. Tinha ainda a obrigação de construir uma igreja, fortalezas e de doar sesmarias, para assentamento dos colonos. Partiu em direção às terras do Ndongo, em busca das lendárias minas de prata de Cambambe, avançando pelo vale do Kwanza até à sua confluência com o rio Lucala, onde fundou a vila de Nossa Senhora da Vitória de Massangano, em 1583 (Fortaleza de Massangano).

Paulo Dias de Novais faleceu a 9 de Maio de 1589 em Massangano e lá foi sepultado, defronte da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, em túmulo de pedra. As suas cinzas foram mais tarde transladadas para a Igreja dos Jesuítas em Luanda, pelo Governador Bento Banha Cardoso, em 1609.

Aspectos da Fortaleza de Massangano - estado actual

Mapa da zona em análise...

OS NGOLAS DO NDONGO

Ngola-a-Nzinga (c.1358) - Potentado legendário de que não se conhecem senão lendas...

Ngola Kiluanji Inene (c. 1515 - 1556)
Ndambi a Ngola (1556 - c.1562)
Ngola Kiluanji kia Ndambi (c. 1562 - c. 1575)
Njinga Ngola Kilombo kia Kasenda (c. 1575 -1592)
Mbandi Ngola Kiluanji (1592-1617)
Ngola Nzinga Mbandi (1617-1624)
Ngola Nzinga (a célebre rainha Jinga) Mbande (1624-1626) – depois Ngola da Matamba e da parte oriental de Ndongo (1626 -1663)

Em 1626 os Portugueses conquistaram a parte ocidental do Ndongo, o “reino” dos Ngola, passando este a ser vassalo de Portugal. Durante este período foram "reis" do Ndongo Dom Hari A Kiluanje que governou em 1626, e o Ngola Hari, que governou de 1627 a 1657.

Hari a Kiluanje (1626)
Ngola Hari (1626-1657)
Mukambu Mbandi (1663 - 1671) – na parte oriental do Ndongo, que incluia a Matamba, depois da morte de Nzinga (Jinga) Mbande

O Ngola A Kiluanje (1515-56) foi o lider do potentado mais destacado do “Reino” do Ndongo, sendo conhecido por Ngola A Kiluanje Inene (o Grande Ngola). O Ngola A Kiluanje Inene fundou uma dinastia do que mais tarde havia de ser conhecida como o Reino de Angola, que então compreendia, entre outros, os terrtórios da Ilamba, do Lumbo, do Hari, da Quissama, do Haku e do Musseke.

Inicialmente o Ndongo era um potentado vassalo do Reino do Côngo até o Ngola A Kiluange Inene se ter declarado independente.

______________________________________________________________

Sem comentários:

Enviar um comentário