PREÂMBULO – PARA UMA HISTÓRIA DE ANGOLA (PARTE 5)
OS “REINOS” PRIMITIVOS (1)
O “REINO” DO KÔNGO
Como vimos no texto anterior aqui publicado, quando Diogo Cão atingiu a foz do rio Zaire, encontrou o potentado de que o rei D.João II já tinha notícia: o senhorio do Kôngo, a que chamou “Reino”, à falta de melhor designação. Contudo o senhor do Kôngo não era, como também já vimos atrás, um “Rei” – na tradição das línguas indoeuropeias – mas apenas uma espécie de “monarca feudal” arcaico, se quisermos fazer uma ténue comparação com a civilização europeia.
O território do senhorio do Mâni Kôngo (como era designado o Senhor do Kôngo localmente) teria sido ocupado durante o primeiro milénio D.C. pelos Bantu, na sua longa marcha pela África subsahariana, desde a foz do Níger – pressionados pela pressão dos povos saharaui, devido à desertificação do Sahara. Devemos referir que os bantu, apesar de serem portadores das técnicas do ferro e da cerâmica, nunca desenvolveram nada parecido com a escrita, pelo que, aquilo que se deduz da sua história, seja baseado nas tradições orais e na arqueologia. Na bacia do Zaire encontraram territórios muito propícios à agricultura e parte deles fixaram-se aí, desde o Séc. XIII, dando origem aos potentados/senhorios conhecidos na História daquela zona.
O território do senhorio do Mâni Kôngo (como era designado o Senhor do Kôngo localmente) teria sido ocupado durante o primeiro milénio D.C. pelos Bantu, na sua longa marcha pela África subsahariana, desde a foz do Níger – pressionados pela pressão dos povos saharaui, devido à desertificação do Sahara. Devemos referir que os bantu, apesar de serem portadores das técnicas do ferro e da cerâmica, nunca desenvolveram nada parecido com a escrita, pelo que, aquilo que se deduz da sua história, seja baseado nas tradições orais e na arqueologia. Na bacia do Zaire encontraram territórios muito propícios à agricultura e parte deles fixaram-se aí, desde o Séc. XIII, dando origem aos potentados/senhorios conhecidos na História daquela zona.
Mapa do Séc. XVIII ou início do XIX (?) de origem francesa, que assinala os diversos "reinos"
Entre aspas, citamos excertos de “O Reino do Congo” de Arlindo Correia:
“(...) Chegado Gonçalo de Sousa a Mpinda [capital do N’Soyo], baptizou-se em 3 de Abril de 1491 o Mâni-Soyo, que tomou o nome de Manuel e o seu filho que se chamou António. Tal só foi possível porque o Mâni-Soyo era tio e mais velho que o Mâni-Congo. Partiram então para a capital, mais tarde chamada S. Salvador e ali foi baptizado em 3 de Maio de 1491 o Mâni-Congo, que tomou o nome de João e sua esposa, que tomou o nome de Leonor, tal como o Rei e Rainha de Portugal. Pouco tempo depois, foi baptizado com o nome de Afonso o Mâni-Nsundi, filho do rei que tinha o nome gentílico Mvemba-a-Nzinga (...)”
Depois do baptismo, o Mâni Kôngo (Nzinga-a-Nkuwu, como João I) adoptou mesmo o título de Rei, à maneira europeia.
Representação do Mâni Kôngo Nzinga-a-Nkuwu (D. João I depois do baptismo)
Brasão de armas atribuído ao Mâni Kôngo
O solo do Congo é fértil devido às chuvas abundantes. O clima era doentio, e mortífero para os europeus que lá residissem. As condições de habitabilidade eram muito rudimentares, a água estava contaminada e proliferavam as mais diversas doenças, com destaque para o paludismo.
As principais riquezas exportáveis eram na altura o marfim e o cobre. As armadilhas para os elefantes eram enormes buracos, disfarçados com ramos de árvores, onde eles caíam e já não conseguiam sair. A exploração do cobre era feita à superfície.
Na monarquia congolesa, o herdeiro do trono não era determinado pela linha directa, mas sim pela colateral. O sucessor seria o filho mais velho da irmã do falecido rei. Mas esta regra era afastada tantas vezes que se pode considerar que o novo rei era eleito entre os membros do kanda, isto é, do clã real.
Entre os conselheiros do rei, sobressaía o Mani Vunda, com funções específicas de conselheiro político (...)”
“(...) Uma outra consequência da chegada dos portugueses, foi que os chefes das províncias passaram a designar-se por duques, condes e marqueses, tal como em Portugal e todos os fidalgos baptizados passaram a ter o tratamento de Dom. Os nobres adoptaram brasões. Foi criada uma Ordem de Cristo do Congo e a coroação do Rei passou a ter de ser presidida por um sacerdote.
Ruínas da antiga catedral de Mbanza Congo - arqueólogos portugueses estão a participar nas escavações actualmente levadas a cabo nesta cidade para recuperação do património histórico...
Reza a história que o rei do Congo, D. João I, passados uns anos, se aborreceu da religião católica e começou a favorecer o seu filho Mpanza-a-Kitima, que não se quisera baptizar. O Rei faleceu por volta de 1509 e este filho apresentou-se como sucessor. Mas a rainha D. Leonor mandou chamar o seu filho Afonso de Nsundi. Este reuniu um pequeno exército, afrontou e derrotou o seu irmão, invocando o nome de Jesus e do Apóstolo São Tiago, tornando-se rei (...)”
Mais tarde, a partir de 1576, com a fundação da cidade de São Paulo da Assunção de Loanda, a actual cidade de Luanda, por Paulo Dias de Novais, inicia-se o comércio de escravos com destino ao Brasil e, a partir daí, as coisas começam a descambar entre a monarquia portuguesa e o “reino” do Kôngo” e mesmo em lutas entre clãs no interior deste...
Para não tornar este post demasiado longo, os interessados podem consultar “O Reino do Congo” de Arlindo Correia, que pode ser lido na integra aqui: http://arlindo-correia.com/100807.html
Deixo aqui a listagem dos “Reis” do Kôngo, segundo uma lista mais ou menos oficial:
Rei Nzinga-a-Nkuwu, João I (1509)
Rei Mvemba-a-Nzinga, Afonso I (1509-1540)
Rei Nkanga-a-Mvemba, Pedro I (1540-1544)
Rei Mpudi-a-Nzinga Mvemba, Francisco I, (1544-1546)
Rei Nkumbi Mpudi a Nzinga, Diogo I (1546-1561)
Rei Mvemba-a-Nzinga, Afonso II (1561)
Rei Mvemba- a-Nzinga, Bernardo I (1561-1567)
Rei Mpudi-a-Mvemba Nzinga, Henrique I (1567-1568)
Rei Mpangu-a-Nimi Lukeni lua Mvemba, Álvaro I (1568-1574)
Rei Mpangu-a-Nimi Lukeni lua Mvemba, Álvaro II (1574-1614)
Rei Mpangu-a-Nimi Lukeni lua Mvemba, Bernardo II (+1615)
Rei Mbika-a-Mpangu Nimi Lukeni lua Mvemba, Álvaro III (1615-1622)
Rei Nkanga-a-Mvika lua Ntumba-a-Mvemba, Pedro II Afonso (1622-1624)
Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Garcia I (1624-1626)
Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Ambrósio I (1626-1631)
Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Álvaro IV (1631-1636)
Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Álvaro V (1636-1638)
Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Álvaro VI (1638-1641)
Rei Nkanga-a-Lukeni, Garcia II (1641-1661)
Durante o período das lutas pelo poder
Em M'Banza Kongo (São Salvador do Congo)
Rei Vita-a-Nkanga, António I (1661-1665)
Rei Mpangu-a-Nsundi, Álvaro VII, (1666-1667)
Rei Álvaro VIII (1667-1669)
Rei Rafael I (1669-1675)
Rei Mpangu-a-Miyala, Daniel I (1678-1680)
Rei Nsaku-a-Mvemba, Pedro IV (1694-1710)
Rei Mpangu, Pedro Constantino (+1710)
Em Ki-Mpangu
Rei Afonso III (1667-1669)
Rei Nkanga-a-Mvemba, Garcia III (1669-1678)
Rei Nlaza, André I (+1679)
Rei Nimi-a-Mvemba, Álvaro IX (+1680)
Rei Nzinga, Manuel I (+1680)
Rei Nsaku-a-Mvemba, Pedro IV (1694-1710)
Em Mbula
Rei Nsuku-a-Ntamba, Pedro III (1667-1679)
Rei Nsuku-a-Ntamba, João II (1679-1710)
Depois de 1718, o reino do Kôngo desmoronou-se por completo, devido sobretudo à série de guerras fraticidas (e contra os portugueses por causa do comércio esclavagista), acabando por se dividir em diversos pequenos senhorios, embora ainda tivessem existido “Reis” do Kôngo nominais (sem qualquer poder) até 1957.
Foto – o Rei do Congo D. António III (falecido em 1957) e família.
Fontes consultadas:
O Reino do Congo (on line: http://arlindo-correia.com/100807.html), de Arlindo Correia
As Origens do Reino do Kôngo, de Patrício Batsîkama
O Reino do Congo, de Chantal Luis Silva
Angola, Trilhos para o Desenvolvimento, de Filipe Zau
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